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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A Lenda da escolha do local da capela


Capela de Nossa Senhora do Livramento - 2006
Acervo Pessoal
            O misticismo, o inexplicável, o sobrenatural sempre envolveu o homem, que percebe na maneira de se relacionar com a netureza que determinadas coisas não tem sentido, cabendo apenas aceitá-las como são, como sendo uma forma de alimento para o imaginário popular. Uma de nossas mais belas lendas é a escolha do local para construção da secular capela de Nossa Senhora do Livramento.
            O local em que hoje se acha chantada a capela é contada oralmente com tendo sido escolhido pela própria imagem da Virgem do Livramento. Reza a lenda que parte da família devota e imbuída na construção da capela havia fixado residência em uma localidade distante poucos quiilômetros da capela que hoje vemos, chamada de Caracará, e outra no Livramento. Por várias noites, tendo sido levada para a residência no Carácará, ela milagrosamente aparecia na residência da família localizada no Livramento, fato que interpretado como a certeza da vontade da Virgem em ter sua capela construída onde hoje se encontra.
           Anualmente, ao anoitecer do dia 17 de julho após dezessete dias de visitas e terços nas mais diversas casas e localidades do distrito, dezenas de moradores da localidade de Caracará, transportam em procissão a imagem peregrina de Nossa Senhora do Livramento (conhecida popularmente como sendo a imagem pequena) até o leito do Riacho do Livramento, onde é então recebida pelos devotos habitantes da sede do distrito de Uiraponga com fogos e cânticos marianos, que também a levam em procissão pelas ruas até a capela. Este ritual que já virou tradição há muitos anos, é também uma alusão ao acontecimento que há quase trezentos anos enriquece de beleza, devoção e misticismo o imaginário dos filhos de Uiraponga.

Características da Imagem Sacra de Nossa Senhora do Livramento

Imagem Sacra de Nossa Senhora do Livramento
Fotografia de acervo pessoal

 

            Há quem diga que a imagem primitiva de Nossa Senhora do Livramento é a de argila cozida que ainda se encontra na capela e a chamamos de imagem peregrina, por ser utilizada nas procissões e novenas domiciliares. Não se sabe de sua origem, mas sabe-se que é muito antiga e possui traços barrocos.

            Como objeto de estudo, trata-se da imagem grande, a que se encontra no altar. Esta possui toda a beleza que um artista pôde expresar ao esculpí-la. Tempos atrás se buscou a possibilidade junto ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), de que fosse feita uma restauração da imagem, algo que não foi possível graças à falta de vontade da igreja local em preservar suas preciosidades. Ao observarem as fotografias levadas, os peritos foram enfáticos ao afirmarem sua extrema e singular beleza, além de caracterizarem-na como sendo do apogeu do período barroco, pela forma como o artista dispôs o panejamento de suas vestes, a leve inclinação do corpo e joelhos, a mão direita posta em sinal de realeza e misericórdia, os pés estarem calçados em sapatos, os olhos de vidro, a boca entre-aberta notando-se os dentes.

            Sua mão direita apoia o Menino Jesus ainda criança, totalmente nu, o que caracteriza sua inocência e pureza de pecados. Tem olhos de vidros na cor verde, em sua boca é possível observar dentes. Confirmo que os genitais foram mutilados por mãos de pessoas que nada entendem de arte sacra.

            A imagem é totalmente de madeira e possui uma base hexavada, apresenta-se com cinco querubins em uma nuvem que apoia a virgem, tem resquícios do uso de folhas de ouro e pintura policromada. Foi repintada uma vez por um artista desconhecido que a descaracterizou originalmente. Atualmente evita-se que a imagem seja retirada do seu local, na tentativa de diminuir seu desgaste.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Esclarecimentos sobre o nome Livramento


           Outra questão causadora de polêmica é o nome Livramento, até pouco tempo pairava a dúvida se o riacho, também chamado de Livramento havia denominado a  invocação de Nossa Senhora ou esse fato era inverídico. A incerteza foi esclarecida após saber-se que a invocação de Nossa Senhora do Livramento teve sua origem em Portugal, durante o reinado de Felipe II da Espanha, quando este invadiu o território português fazendo com que a soberania espanhola fosse aceita.
            Muitos fidalgos foram presos e entre estes estava Rodrigo Homem de Azevedo. Sua esposa recorreu a Nossa Senhora e durante nove noites ela a pareceu em sonho dizendo: “Não te agastes, eu, que tudo posso, o livrarei. Se puderes, em algum tempo edificar-me ás uma casa”. Ao fianl da novena, Rodrigo recebeu ordens para retornar a sua casa e quando soube do sonho da esposa mandou  esculpir uma imagem tal e qual a esposa vizualizara em sonho. Em virtude do “Eu o livrarei”, deu-lhe o nome de Nossa Senhora do Livramento.
            Sendo a invocação bem mais antiga, ela foi trazida com os portugueses para o Brasil, vindo denominar o Riacho, a fazenda e a capela sob a proteção da virgem.

O projeto arquitetônico da Capela



O aspecto que hoje se observa na arquitetura do conjunto capela-cruzeiro pouco guarda do seu original. A começar pelo cruzeiro, o atual é o segundo construído, o primeiro, bem mais elegante, tinha características da arte barroca mais próxima do que se nota na fachada da capela, possuía uma base hexatavada com uma cruz em madeira, afirmada pelos antepassados como abençoada por Frei Vidal da Penha, religioso muito conhecido pela história oral por viajar extensas áreas no decorrer do século XVIII, pregando acontecimentos catastróficos e cura de males por meio da obediência a religião católica apostólica romana.

            A compreensão de como era a capela primitiva foi possível com base em fotografias antigas, descrição oral, observação de traços de estilos arquitetônico anteriores e posteriores ao período de construção. Em sua forma original não possuía a torre central, laterais, ogivas, janelas em abóboda. Seu aspecto era simples e compunha-se somente de nave central e capela-mor, ambas construídas com uso de pedras e tijolos unidos com cal. Percebeu-se que seus fíeis não dispunham de muitos recursos financeiros ou então foi levantada rapidamente pois não possuía muitos detalhes de acabamentos grandiosos e embelezamento nas formas.

            O que se sabe é que foi erguida de forma planejada para que fosse alargada com naves laterais, pois abaixo do forro das paredes foi possível observar um conjunto de arcos demarcados para que fosse feita a comunicação entre as naves laterais e central, o que é notado em outras capelas da região como na Barra do Sitiá e Russas. E provalmente fossem levantadas as suas torres, uma em cada lado como deveria ser, de acordo com o padrão. Sua conexão entre a nave central e capela-mor era feita por meio do arco da capela, uma espécie de portal que se estende por toda a nave central, possuíndo em sua base as grades de madeira que separavam o local do culto sagrado e os fiéis. A capela-mor era rebaixada e forrada com madeiras, da mesma maneira que as outras da região.

            Situado logo após a entrada da capela, acima de quem atravessasse a porta principal, estava o côro, local destinado aos músicos que auxiliavam o padre no decorrer da missa. Construído todo em madeira de lei com varanda trabalhada foi vista até a década de 50, quando então foi demolida e suas partes levadas para um local incerto até hoje. Logo abaixo no canto esquerdo da parede da fachada, situava-se a pia batismal em pedra, sendo possível atestar sua existência por um pedaço ainda visto do que sobrou de sua base.

            Imagina-se que seu interior fosse rudimentar, não possuíndo piso de madeira, nem de tijolo, muito menos assentos, todos assistiam o culto inteiro em pé, intercalando com momentos de joelhos ao chão. Era uma prática ainda bem comum até o final do século XIX o enterro dentro das igrejas, fator que de certa maneira atrapalharia essa ocasião. Outra prática notada nas capelas era os fiéis mais abastados terem suas cadeiras de uso particular dentro das igrejas para o momento do culto, quando isto foi permitido.

            Com relação ao altar, estudos ainda estão sendo realizados para tentar remontá-lo como originamente, pois o mesmo foi demolido no período que considerarei “negro” na história do patrimônio religioso de Morada Nova, isto é, durante o sacerdócio do Padre Sebastião Marleno Alexandre. Sabe-se que tinha grande beleza e era inteiramente de alvenaria.

            Suas laterais foram construídas entre o final do século XIX e início do século XX por iniciativa e recursos próprios de João Pedro Rodrigues de Lima (meu terceiro avô por linhagem paterna). Tendo sido doado por ele um sino, que não sabemos se é o famoso sino das badaladas altas ou outro qualquer e um patrimônio em ouro na forma de cordões, que segundo consta na tradição oral, foi levada sem permissão por padres de épocas passadas.

Os curas em nossas terras

Um padre jesuíta no Brasil. Chapéu e bastão apontam para a itinerância missionária. Pintura do século XVIII
            Grande parte de todos os padres da antiga freguesia de Nossa Senhora do Rosário das Russas, o curato no qual toda a região jaguaribana estava circunscrita, juntamente com seus frades e visitadores, celebraram, enterraram e realizaram casamentos na capela, sendo o primeiro que se têm notícias o Padre João Cavalcante Bezerra, sacerdote do hábito de São Pedro, batizando a menina Paschoa naquele treze de janeiro de 1736, de acordo com o livro nº 01 de batismos.

            Merece destaque, a atuação do Padre Leonardo Bezerra Cavalcante, este sacerdote do hábito de São Pedro, oficiou atividades religiosas por mais de quarenta anos sendo interrompido por sua morte em 1771. Acredita-se que tamanha atuação se deu pelo mesmo residir em um sítio junto ás margens do Riacho Livramento.

            Os religiosos enfrentavam uma verdadeira empreitada em lombos de animais a fim de levarem a palavra de Deus, administrar sacramentos e desobrigar os fiéis. No caso da Freguezia de Nossa Senhora do Rosário das Russas, esta se estendia até os limites com Quixeramobim e Icó, algo impossível e desgastante para que se desse uma boa assistência espiritual, principalmente no leio de morte.

            Podemos considerar que os habitantes das proximidades da capela do Livramento tinham certos a garantia e conforto no que tange a isso, pois para nascer e constituir família, era necessária a presença de um religioso, isso era importante principalmente no transcurso da morte para promover um conforto e fosse garantida a salvação da alma no momento da passagem.

            Mesmo assim verificou-se em diversos assentos de batizados e óbitos que a assistência religiosa nem sempre foi possível, principalmente na administração dos sacramentos de extrema unção e eucaristia ao moribundo.

A Ermida da Mãe do Livramento

Capela de Nossa Senhora do Livramento
Década de 60


             Por muito tempo afirmou-se que a capela existe desde 1726, mas em busca feita pelo Livro nº 01 de batismos (considerado o mais antigo existente nos Arquivos da Diocese de Limoeiro do Norte) datado de 1730, não foram encontrados nenhum registro de assentos por um período de cinco anos, até que no dia treze de janeiro de 1736 houve o batismo de uma criança, fato que passou a constar rotineiramente nas folhas seguintes. É importante ressaltar que as páginas do referido livro encontram-se paginadas e rubricadas pela mesma pessoa, comprovando a impossibilidade de haverem folhas extraviadas. É provável que esta capela não existisse ainda antes de 1736, ou pelo menos não se encontrava pronta para nela serem exercidas atividades religiosas.

            As terras que hoje compõem o território do distrito de Uiraponga e partes do distrito vizinho de Roldão encontraram-se requeridas desde 1707 pelo sesmeiro Pedro de Souza e 1739 por Antonio Velloso de Andrade, fato que comprova a propriedade particular das terras em questão e que se encontravam habitadas. Afirma-se ainda por meio do Ensaio Estatístico da Província do Ceará feito em 1862 com o seguinte teor: Capela instalada em 1735, doação de meia légua de terra por Pedro de Souza. Em 1765, Amaro Bezerra doou mais meia légua.

            A partir disto conclui-se o que já foi dito sobre a construção não ter ocorrido em 1726, o que não se pode afastar é que sua construção ou anseio deva ter se iniciado nesse ano, mas que suas atividades só foram iniciadas em 1736 por se achar em condições para isso. Sobre o patrimônio doado será levado em consideração o que foi afirmado no Ensaio de 1862, pois o sesmeiro Pedro de Souza era o donatário das terras há quase vinte anos. Sobre o construtor, nada se pode afirmar.